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História da Arte

 

"Harmonia - A música que alcança o céu"

 

 

#IbraimGustavo

 

 

O que conhecemos de música hoje é apenas o resultado de séculos de estudos de arte, matemática, física, arquitetura entre tantas outras manifestações culturais e eruditas.

 

Apesar de raras exceções, a música no início do segundo milênio ainda era composta para ser tocada ou cantada em uníssono, ou seja, apenas uma linha melódica fazia parte das obras até então compostas. Essa técnica era denominada de Cantochão, ou Canto Gregoriano.

 

A exceção ficava por conta da música popular dos aldeões, vinda das vilas pobres frequentadas também por membros da nobreza, que tiveram formação clássica na igreja. Apesar da proibição clerical de intervalos dissonantes, considerados diabólicos, os trovadores tinham o ouvido preparado para a música erudita, que viriam a ter terças sobrepostas da harmonia.

 

A  música no século XII recebeu grande influência a partir da Revolução Gótica, iniciada na arquitetura. “Até o momento, a Igreja não permitia o uso de sons dissonantes na música sacra. Toda composição que utilizasse o recurso do trítono, por exemplo, era considerada profana. Diabólica”, é o que nos conta o maestro e professor de História da Música, Bacharel em Instrumento (violino) pela Unesp, Rinaldo Zamai.

 

A Escola de Notre Dame em Paris encampou a batalha pela revolução na música com dois de seus principais nomes, o Mestre Leonin e seu sucessor Perotin, o Grande, que juntos de seus alunos escreviam peças conhecidas como Organum.

 

Na segunda metade do século XII foi descoberto em Paris um livro chamado Magnun Liber Organi, uma coleção de obras para serem executadas em celebrações eclesiásticas. Essa compilação de peças sacras teria sido criada por Leonin (França, 1135-1201) e organizada anos mais tarde por Perotin (França, 1160-1236)

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A partir de estudos dos métodos do matemático e filósofo grego Pitágoras, Leonin passou a aplicar em sua música técnicas de composição a duas vozes, como afirma Zamai: “as próprias construções das catedrais privilegiavam a reverberação do som e fazia com que se pudesse ouvir 'sons extras' da série harmônica. Ele começou a explorar esse fenômeno”. A partir de então, a polifonia é caracterizada pela disposição das vozes superiores, além de criar novas relações de intervalos que serviriam de base para o que hoje conhecemos como harmonia.

 

Perotin foi ainda mais longe. Escrevendo novos intervalos, elevou a música a um nível jamais antes alcançado ao transformar Viderunt Omnes na primeira obra musical cantada a quatro vozes. Assim nascia a noção de harmonia tão utilizada nas composições contemporâneas.

 

A voz principal agora é chamada de tenor. Cria-se, então, a segunda voz (o baixo), e somadas a ela, a terceira e a quarta vozes, que exploravam os melismas (técnica vocal) sobre as notas sustentadas da voz principal. Todas cantadas exclusivamente por homens.

 

O professor e compositor Luís Giovelli, mestrando em Fundamentos Teóricos pela Unicamp, afirma que Perotin também se apropriou da série Pitagórica para criar novos harmônicos: “ele abriu caminho para a melodia acompanhada e novas formações sonoras. Assim surgiram os acordes de terças e sétimas dominantes, por exemplo. Esses acordes são muito usados na música de Phillip Glass, na música popular e na trilha sonora”.

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=aySwfcRaOZM
(música pode ser assistido no link ou na página principal)
 

Perotin deu sequência aos estudos de Leonin e, no natal de 1198, estreou a obra Vierunt Omnes a quatro vozes. Para os presentes, em algum nível, físico ou espiritual, a Terra tinha se encontrado com o céu. O propósito da Revolução Gótica finalmente foi alcançado.
 



 

Série Compositores: 1750 - o ano em que o Barroco descansou

18.05.2015

 

 

 

 

#IbraimGustavo

 

 

No segundo capítulo da série: o cravo virtuoso se despede dos homens para se encontrar com o seu Criador

 

1750 - que ano importante foi esse no calendário artístico mundial? Nenhuma definição de linha do tempo é exata em datas quando falamos em arte. Por exemplo: qual o ano exato do início do Renascimento? Quando acabou o Romantismo? Nós podemos apenas afirmar que esses acontecimentos se deram em datas aproximadas. Temos como referência para tais afirmações, movimentos artístico-culturais ao redor do mundo (ou no mundo ocidental), a permanência de um gênero após determinado período, a quebra brusca da tradição após algumas dezenas de artistas repetirem uma mesma modalidade, seja na pintura, na dança, na arquitetura, na música. O acontecimento de 1750, porém, fez com que a própria história reverenciasse um grande nome da arte Barroca, em especial da música. Volto a falar dele a seguir.

 

Durante a Renascença, o Iluminismo trouxe divergências entre os homens, e dúvida para a fé de muitos que passaram a questionar se os problemas que enfrentavam e as dificuldades que os assolavam eram simplesmente a mão de Deus pesando sobre eles, como pregava a fé Católica, ou se a coroa e o clero não tinham grande responsabilidade e forte interesse na manutenção do caos.

 

O Barroco surge no sentido de devolver as glórias destinadas ao homem ao Ser supremo, o Criador, Deus. O dualismo homem x Deus é o foco principal dessa era. As diversas reformas ocorridas no início do século XVI trouxeram preocupações à Igreja, que via seus fieis abandonando os bancos da igreja e seus confessionários a cada domingo. Martinho Lutero e João Calvino foram dois dos mais relevantes nomes da Reforma Protestante, a maior delas.

 

Em meados do mesmo século a Igreja Católica Romana procura responder aos rebelados com a instituição de diversas regras e dogmas que deveriam ser seguidos pelos seus membros. O Concílio de Trento foi o primeiro passo para a retomada do crescimento do poderio papal, tanto na Europa quanto no Novo Mundo, a América. Para colaborar com a Contrarreforma, a arte, como sempre, foi sequestrada com um objetivo muito específico: incutir na mente e no coração humanos a devoção a Deus e à Santa Igreja. Pintores, dançarinos e músicos têm a função de quebrar as novas posições do homem em relação à religião e “salvar” homem de si mesmo.

 

Felizmente, indivíduos notáveis conseguiram salvar a arte, a despeito das fortes influências exercidas por Roma. O dom de Deus e a inteligência humana, mais uma vez, se revelaram em homens que se dedicavam integralmente à beleza da música. Esse é o caso de Johann Sebastian Bach, ou simplesmente Bach, o maior nome do período que tem início com o fim do Renascimento, entre os séculos XVI e XXII, apesar de haver pintores, como Rafael, que já se utilizavam de técnicas barrocas na Alta Renascença.

 

Bach nasceu em Eisenach, na Alemanha, em 1685, pertencendo a uma família de músicos. Começou precocemente a aprender a arte, ainda criança, quando copiava as partituras de seu irmão, Johann Christoph, excelente músico e organista da Igreja de St. Michaels. As primeiras aulas de piano de Bach foram ministradas justamente pelo seu irmão mais velho, Christoph, que foi aluno de outro grande compositor Pachellbel. Ainda jovem, Bach traduzia textos em alemão, latim, italiano e francês, além de ter um profundo conhecimento em matemática, o que muito contribuiu para suas composições.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luterano, Bach foi Mestre de Capela na cidade de Köthen, um dos mais altos graus

da música sacra

 

“Bach é o apogeu do Barroco. Conseguiu sintetizar com maestria as características regionais da música da Itália, França, Alemanha e Inglaterra, em um estilo único e universal. Sua contribuição para o desenvolvimento da arte foi fundamental, pois sua música rompe fronteiras temporais e locais. Junta, ao mesmo tempo, o máximo de lirismo e dramaticidade com estruturas matemáticas”, afirma o professor de harmonia e mestrando em Fundamentos Teóricos pela Unicamp, Luís Giovelli.

 

Constam de suas composições cantatas, missas, motetes, cânones, lieder (músicas populares alemãs), além de muitas outras, todas catalogadas durante a década de 1950 pelo pesquisador Wolfgang Schmieder, e que levam a inscrição BWV - Bach-Werke-Verzeichnis (Catálogo de Obras de Bach, em alemão). Entre suas obras mais conhecidas estão Jesus Alegria dos Homens (BWV 147), Tocata e Fuga em Ré Menor (BWV 565) e Senhor Eis-me Diante do Teu Trono (BWV 641), seu último trabalho antes de morrer, ditado por ele e escrito por seu genro Johann Christoph Altnickol.

 

Giovelli diz que Bach não compunha para gravar seu nome na história, tampouco imaginava que suas obras se tornariam referência, não só na Alemanha, mas em todo o mundo: “Ele escrevia suas peças para serem executadas e, depois, jogadas fora, como é o caso das cantatas. Compunha peças didáticas que hoje entendemos como grandes obras-primas do Barroco, como as Invenções e Sinfonias para cravo e as suítes para cordas”.

 

J. S. Bach rompeu barreiras impostas pelas dificuldades da época e fez com que sua música fosse muito além dos seus propósitos primeiros: “Ele é o ponto máximo da música, não só ocidental como universal. Temos nele todos os elementos da música renascentista, barroca, clássica, romântica e até moderna e contemporânea. Como Mozart, consegue ser extremamente popular e, ao mesmo tempo, para compreender um pouco do seu universo particular, é necessária uma refinada erudição”, conclui o professor Luís Giovelli.

 

Em 1723 se muda para Leipizig, onde se torna organista da igreja de São Thomas e se reaproxima de sua família. Seis anos mais tarde, assume a direção do Colégio de Música da cidade. Permanece em Leipizig até sua morte, em 28 de julho de 1750 - o fim do período barroco. 

 

Ninguém antes na história tinha tido tanta importância para uma era como Bach teve para o Barroco, um gênero que, na verdade, já não era mais criado por compositores, pois perdia lugar para a música clássica. Nenhum historiador, porém, se atreveu a determinar o fim do Barroco enquanto Bach estivesse vivo. Logo, 1750 foi o ano em que, definitivamente, o gênero se silenciou e foi sepultado na igreja de São Thomas.

 

Pelos eternos Mozart e Beethoven, Bach é considerado “o pai da harmonia”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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"Quem toca Bach, toca tudo" - frase é explicada com a presença corriqueira de virtuosismo nas obras do alemão. 

 

 

Tags:  #HistóriaDaArte  #SérieCompositores #Barroco #Bach

 



 

 

Série Compositores: Um homem à frente de seu tempo

15.05.2015

 

 

 

#IbraimGustavo

 

Para iniciar a série Compositores, um dos maiores nomes da Renascença

 

Artistas têm um olhar diferenciado para a vida, distinto da maioria das pessoas porque estão sempre buscando melhorar o outro com suas criações e execuções. Se preocupam tão pouco consigo mesmos para se debruçarem nos problemas do próximo, ardendo neles o desejo de resolvê-los imediatamente.

 

Quando pinta um quadro, o artista quer expressar, em pinceladas e na escolha das cores, sentimentos vívidos; para o escritor, não são apenas palavras depositadas nas alvas páginas de um livro; mover o corpo em arte é devoção aos instintos da liberdade plena para um dançarino. E não é diferente para um compositor musical. São décadas estudando figuras, ritmos, sons e outras obras das quais sua inspiração pode se apropriar. 

 

Durante a Idade Média a Igreja detinha um poder absoluto no continente Europeu, influenciando fortemente a recém-descoberta América, principalmente nas práticas e costumes. O Clero, que ditava à sociedade o que era certo e o que era errado, tinha muito poder em suas mãos, além de muita riqueza e, segundo seus membros, providência divina para tomar importantes decisões.

 

Dentre essas decisões estava a cobrança de altos impostos para manter a organização clerical e a missa, o sustento dos trabalhos missionários e também custeio de diversão sem fim aos nobres e à Coroa. As festas promovidas pelo alto escalão do império eram regadas a bebidas caríssimas, danças típicas e música, sendo que muitas delas, se não a maioria, eram compostas em curtíssimos prazos, especificamente para esse fim. Logo, dependia de muito esforço e conhecimento técnico dos músicos e instrumentistas. Mas, é claro, o rei queria assim.

 

Ao criar uma longa peça para o baile real, o compositor deveria compreender a vida no palácio e dela fazer parte, pelo menos durante os sete dias que dispunha para escrever e ensaiar essa obra. Mas o prazo não era o principal problema, já que aquela não era a única música que ele deveria compor naquela semana. A missa ia acontecer no domingo pela manhã, e o bispo necessitava rezar sua homilia, de aproximadamente uma hora, acompanhado por instrumentos musicais. Como compor uma peça profana para uma comemoração no palácio do rei, e uma missa inteira em um período de tempo tão enxuto? 

 

Um homem à frente do seu tempo, pelo menos cem anos. Você já conheceu alguém assim? É tão raro nos encontrarmos com personalidades que se destacam de maneira tão positiva e peculiar que, quando isso ocorre, damos o máximo valor aos seus ensinamentos. Josquin Des Prez foi um desses homens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Josquin era considerado o "Príncipe da Música" durante o Renascimento

 

Nascido na França, em 1440, Des Prez foi um dos maiores nomes da música de todos os tempos. Sem dúvida, um homem à frente do seu tempo. Sua experiência musical e seus dotes melódicos faziam toda a diferença em suas obras. Podemos observar a distinção e a beleza de suas composições, tanto sacras como seculares. El Grillo, Mille Regretz e Absalon Fili Mi são exemplos de como “O Príncipe da Música”, como era chamado, transitava facilmente entre a chanson (canção popular francesa) e a obra sacra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A Doutora em Música pela Unicamp, Daniela Lino, exalta a genialidade de Josquin: “foi um dos compositores mais prolíficos de sua geração, considerado um mestre, não apenas pela quantidade de obras e estilos que escreveu, mas, particularmente, pela habilidade e genialidade com que compunha, permitindo uma estreita relação entre a música e a poesia."

 

Era racional em cada compasso, criativo em cada frase, sentimental e real em todas as suas peças. O compositor dominava a técnica do contraponto e explorava como ninguém toda a beleza de uma harmonia. Suas letras, não menos brilhantes, inspiram até aos dias de hoje: “Josquin escreveu muito bem nos mais diversos estilos, utilizando textos bíblicos em latim e poemas em francês e italiano. É possível afirmar que ele fazia a transição entre a música secular e a sacra com grande habilidade”, completa Daniela.

 

Não por acaso foi um dos poucos artistas reconhecidos em vida, sendo considerado como o Príncipe dos Compositores. Era fabuloso e está vivo em cada uma de suas obras.

 

A música tinha barreiras para se desenvolver antes de Josquin Des Prez e ele, com toda a sua habilidade, fez o favor de rompê-las até onde pode, inspirando discípulos, compositores contemporâneos a ele e outros que o ajudariam a elevar a música, séculos depois, aos padrões mais altos, culminando no barroco, com Johann Sebastian Bach.

 

 

Tags: #SérieCompositores #Música  #OPríncipeDaMúsica #JosquinDesPrez #PríncipeDosCompositores

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